domingo, 1 de abril de 2012
Quarta farejadora, CÃOriosidades: BASENJI
Terça Insana: DEMÓSTENES TORRES
- O que um sujeito como ele está fazendo com um cara como esse? Por que eles se telefonam tanto? E ainda com celulares não rastreáveis?
- Desde quando começou esta amizade tão singular?
- Ou será que o Demóstenes seria apenas um funcionário do poderoso chefão?
- Mudanças externas revelam mudanças internas, ele não sorri mais e seus óculos parecem mais grossos. Voltará ele a engordar?
- Se um cão cheirar o Demóstenes, ele vai latir furioso?
Cesta Cultural: FRANZ KAFKA
Quinta está no ar, cinema: CAVALO DE GUERRA
“Cavalo de Guerra”
Meu pai foi diretor do Hipódromo da Lagoinha, adorava cavalos e montava esplendidamente. Meu irmão, um cavaleiro nato, criou mangalargas marchadores e até hoje é sócio do clube local. E eu? Acho que em outra encarnação devo ter sido um deles, tamanho o meu apreço e identificação por estes animais extraordinários. O filme? Mostra a história de um castanho escuro, um “Hunter”, que puxava arado, corria, saltava e era amável como ninguém.
O pai é um ex-combatente miseravelmente marcado pela Guerra dos Bôeres, triste, sequelado e alcoólatra. A mãe já foi bela, ainda apaixonada por seu homem e encantada pelo filho. O rapazinho é doce, forte, sonhador, empolgante e empolgado. O cavalo? Inquieto, calçado nas quatro patas, estrela na testa e de uma resistência e velocidade incomuns, só encontrada no melhores Warmblood holandeses. Eles formam uma dupla inseparável. O rapaz e o animal.
Primeira cena é a da compra do bicho. Estarrecedor seu porte e andadura. Depois ele aceitando puxar o arado, coisa que cavalo que corre não faz. Cada momento é de superação o que vai –logo no início- levar as lágrimas os mais sensíveis. A família reunida por um objetivo comum, a lavoura. A chuva arranca o nabo, destrói os sonhos, tem que vender o tesouro.
Quem compra encanta-se imediatamente. Segunda cena de impacto é a corrida contra outro garanhão, este enorme, um PSI (puro sangue inglês) preto. Quem acha que serão inimigos, ledo engano. Tornam-se inseparáveis. Daí em diante a guerra explode totalmente, estamos na França, na Primeira Grande Guerra, apesar do batedor indiano, um sikh, errar feio, o cavalo sobrevive.
Dois irmãos desertores alemães, fogem com a dupla equina, param num celeiro. Menininha com o avô. Não tem jeito, você vai se emocionar. Sempre que alguém no filme se depara com o animal percebe imediatamente que se trata de um ser especial. E Spielberg faz questão de mostrar isso em planos fechados lacrimejantes e contraluzes de arrepiar o mais empertigado espectador.
Daí em diante as cenas dos horrores da guerra são violentas, mesmo aos olhos de um cavalo e pelo tamanho dos cílios, percebo que nem sempre é o mesmo animal-ator. E a andadura hora parece de um andaluz (puro sangue espanhol) e até apresenta o tríplice apoio característico dos mangalargas... Mas nada disso importa, o que ocorre é que o animal muda de dono e de lado no meio da estupidez bélica humana.
A morte de um belo exemplar é triste e o sol se pondo atrás é pungente, quase piegas. Entretanto com o galope desabalado que ele imprime, o filme parece correr direto para a tristeza imensurável. Arrebentando no peito os arames-farpados, rasgando no meio o front, arrastando-se pelas trincheiras, até cair no meio de lugar-nenhum.
Então a solidariedade surge quase que milagrosamente, belíssima cena em tons de cinza, profundo diálogo entre jurados inimigos. E o garanhão é desenrolado de seus freios e bridões de metal. E não acaba aqui.
Seu dono está perto, cego pelo gás, e ele passa ao lado, para ser sacrificado. Então, um som. Vale lembrar que todo animal de estirpe, assim como todas as famílias nobres, têm um sinal próprio, um assovio. E ele atende ao chamado de seu dono original. É de arrancar pica-pau do toco. O reencontro doloroso, emocionante, para ambos e todos ali presentes. Tendo o fim da guerra por testemunha.
Mais um leilão. Mais um lance. Mais uma batalha. Palavras de entrega e paixão, momentos de pura lembrança e a justiça é feita. E então, já em casa, nos campos elevados de Devon, o filho a casa retorna. Montado. E você, cinéfilo; desidratado de tanto chorar.
O que há de bom: animais espetaculares, cinegrafia sem defeitos e bela reconstituição da época
O que há de ruim: talvez exagere no melodrama, não sei, eu fui pescado desde o início, fui criado em Goiás, montando
O que prestar atenção: Finders Key é o nome de um dos 14 cavalos utilizados na filmagem, além do meu predileto; o Aroma
A cena do filme: pai e filho se reencontrando, isso sempre me desanca
Cotação: filme ótimo (@@@@)