“Onde os fracos não têm vez”
Os sentidos são cinco. Aliados ao sexto, que poucas pessoas têm. Valendo-me de todos eles, o filme fede. Pois se no começo um cachorro manca com a pata quebrada, é óbvio que no final o Cão irá fazer igual. E somente por isso essa película pode ser considerada sensacional.
Quem atira e mata cachorro ou qualquer bicho que seja, não vale nada. Llewelyn - arrebentando no papel o bigodão de Josh Brolin - Moss está caçando (?!) no meio da solidão texana. Encontra uma carnificina, que até agora ecoa nos meus ouvidos os tiros de variadas armas e calibres, entre o fornecedor e o comprador de drogas. Somente um sobrevivente. Que pede água. Cada diálogo, cada som da Natureza, é um primor. A direção capricha nos ínfimos detalhes. Pedi para um grande amigo cego ver o filme. Ele adorou o que ouviu.
Ele, Llewelyn – que nomezinho difícil, assim como todos do filme, cheio de significados e referências, depois explico- retorna para ver o sujeito que estava morrendo. Um grande erro e único gesto humano no filme inteiro. E lá está o seu perseguidor. Com um cabelo nojento alisado, botas limpíssimas, uma arma de pressão de matar boi no Goiás Carne e a maldade, visivelmente transbordando do coração. Mais uma perseguição e tome bala em fantástico cachorro, Pit Bull Red Nose, nadador. Quase saí do cinema, de tão puto que fiquei. Alguém que reduz humanos a animais e vice-e-versa, é monstro.
O gosto de sangue escorre nas telas. Nada de risadas malévolas. Ou gritos de terror. Nenhum “gore”. O já clássico diálogo cheio de fel entre o matador profissional, Carson Wells (perfeito o Woody Harrelson) e Anton Chigurn (indescritível Javier Bardem) é de uma sutileza figadal que até assusta se mal traduzida for. Mas não o é. Então fica claro que o sujeito é mau mesmo, mas não é burro e muito menos inconseqüente. Ele treina seus gestos, ele calcula tudo. Ele é amargo como tamarindo azedo de fevereiro.
Toquemos a pele de quem morreu. Ela é fria. E frio é o resultado do narrador presente,o xerife Ed Tom Bell (o descaroçado Tommy Lee Jones). Sua visão de mundo é pessimista, triste, marmórea. O mundo ficou áspero. Sem dedos. Sem a palavra “soft”. Ele é o retrato em branco & preto do título original, “No Country for Old Man”. Sua cena vendo o que o assassino viu, tomando o leite, ou então a sombra de caubói ao entrar no quarto de motel, tudo muito dérmico. Aliás, epidérmico. Profundo.
Meu sexto sentido revela que o final não será exatamente o que a galera mediana e obtusa deseja. Adivinho o atropelamento facilmente. Quem vai sempre ao cinema, sabe das coisas, né? E a discussão profunda entre os garotos sobre o ato de dar a camisa, receber o dinheiro e dividir este lucro, revela no meu íntimo, que o mundo está mudado.
O que há de bom: direção beirando a perfeição, pelo menos cinco atores estão no melhor de suas atuações, diálogos “increibles” e sutilezas escrotificantes
O que há de ruim: ainda não sei, vou assistir duas vezes, com meus seis sentidos de COBRA
O que prestar atenção: em tudo, em tudo, redobrada atenção, até nas placas dos carros, no número de cervos sendo caçados, no figurino de cada ator e seus respectivo nomes
A cena do filme: difícil, mas vamos lá... que tal a lógica sem senso dele, ao encontrar com a garota Carla Jean e acusar o seu rival de que ele a entregou em detrimento do dinheiro
Cotação: filme excelente (@@@@@)
Giovanni Cobretti, o COBRA
by Úrsula Maff
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