quarta-feira, 30 de junho de 2010

Terça Insana: Um Dia de Cão


Lady Gaga leva um tombão no dia 23 ao utilizar um salto de 23 cm.

O que leva um humano a imitar uma girafa?
Nós cães somos digitígrados, nos apoiamos nos dedos.
Por que uma fêmea humana quer ser plantígrada, apoiando nos cascos?

E a pelagem dela está muito feia, também... Louca, não?

Úrsula Maff

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Pergunte ao Cão: Segunda de Dúvidas

Pergunta da semana, enviada por Maria Clara:

" Eu tenho medo de cães muito grandes, mas acho eles lindos. Como posso me aproximar deles sem ser atacada?

Mimos: Presente do Domingo

"Amor de cão é como de criança: incondicional"

Úrsula Maff

ps: foto enviada por Lú Colossi

domingo, 27 de junho de 2010

Dunga e Maradona: Duas Faces da Mesma Mordida

“Dunga e Maradona: duas faces da mesma mordida”

Observando a Copa do Mundo, deparei-me com dois animais muito semelhantes. Os cães Dunga e Maradona. Primeiro na origem, são latino-americanos, jogaram futebol e foram líderes de sua matilha.

Você podem até estar surpresos com as minhas colocações caninas, mas um animal cheira o outro. Consigo identificar inúmeros pontos de contato entre ambos. Veja lá: quem tem o total controle sobre os seus comandados? Dunga e Maradona! Quem já representou toda uma Era (Era Dunga e Era Maradona) no futebol mundial? Quem briga com os seus seguidores – os repórteres - constrangendo-os e hostilizando-os, para depois fazerem declarações amorosas e lacrimogênicas acerca da própria família?

Neste instante eles desenvolvem um dos maiores instintos de bando, que é a preservação. Chamando a atenção para si mesmos, ambos ególatras de marca maior, eles poupam os seus cães de censuras e argüições. Vejam como elegem o seu líder dentro dos onze em campo: o melhor. Messi com seu pelo liso, sua velocidade arguta, seu faro de gol. Lúcio, com sua longilínea postura, flexibilidade e raça na defesa. Um cão de ataque e outro de guarda. O que dá na mesma. Ferocidade.

Outra coisa marcante é a nossa famosa fidelidade canina. Dunga só chamou àqueles que colocaram a Copa e a Seleção como prioridade. Presenteou com a convocação o cachorrinho que faltou aos seus compromissos no seu clube. Maradona idem. Somente escolheu quem ele gosta, quem tem carinho e o obedece cegamente. Vide os afagos públicos que distribui em campo, tanto no início como no fim.

O auto-endeusamento dos cachorrões chega as vias de fato ao escalarem seus times à sua imagem e semelhança. Enquanto o anarco-populista Maradona, põe a matilha para frente, de maneira alegre e desordenada, tendo como líder um felpudo Messi como seu alter-ego, Dunga copia. Já o brasileiro concreto-militarista, insere o seu escrete fechado, rigoroso, geometricamente calculado, com Elano um mais-ou-menos que não falha. E como todo nacionalista, conta com a sagacidade de um Luis Fabiano e suas patinhas mágicas, ou um Robinho e sua pedalativa reboladinha.

Se as declarações de Maradona em público chegam ao histrionismo pedante, e se diverte; Dunga não fica atrás. Ele é tão contundente como seu coleguinha de banco. Xinga baixinho, num rosnado seco e gutural, mas que o mundo inteiro escuta e o adverte. Os dois são notícias constantes e bombásticas.

Querem mais uma coincidência? Serão os primeiros contemporâneos que se defrontam tanto no campo como no comando. O que também – politicamente falando – devido a inexperiência como técnicos, jamais comandaram time algum, exercem uma dominância nunca antes vista neste universo futebolístico. Escalam quem desejam, brigam contra o “status quo” e até desdenham de seus líderes, cumprimentando-os com a mão no bolso ou olhando para o outro lado. Todos os cães sabem que a dominância é sinal de agressividade recolhida...

Não vou mais desfiar as dezenas de particularidades que unem estes dois belos exemplares de uma raça que não existe mais: o cão-turrão. Eles simplesmente não mudam um milímetro em seus comportamentos, doa a quem morder. Torço muito para que o Dogo Argentino chegue a final contra o Fila Brasileiro.

E espero – com a sinceridade que me é peculiar – que vença o melhor futebol. Estabelecendo no placar elástico, muito gols e jogadas de efeito tanto de um lado como do outro. E se você leitor e leitora, ficarem chateados comigo por não tomar partido nem de um, nem de outro, não esqueçam que sou alemã. E por isso cuidado!

Auauauauauauaúúúúúúúúúúú !

Úrsula Maff

sábado, 26 de junho de 2010

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Cesta Cultural: Sigmund Freud



"Cães amam seus amigos e mordem seus inimigos, bem diferente das pessoas, que são incapazes de sentir amor puro e têm sempre que misturar amor e ódio em suas relações."

Sigmund Freud

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Entre Dois Amores




Alguém já deve ter visto o filme com a Meryl Streep e o bonitão do Robert Redford. É na África. Mas só o título que importa... Que mulher nunca ficou dividida entre dois amores? Um do passado –que retorna- e o do presente? O legal e aquele que mexe com você? Um que é belo de se ver e outro de conversar? Eu convivo diariamente numa dualidade tipicamente feminina. Qual escolher? Qual deles eu amo mais? Nem sei...

O primeiro é um Dinamarquês, ou Dogue Alemão. Ele é enorme, gigantesco. Mas não é abrutalhado, ou tosco, ou grosseiro. Ao me colocar em sua cama, enrolo-me aos seus pés (como são grandes!) e delicadamente ele me acaricia. Seu pelo é tigrado. Adoro abraçá-lo e encostar-se ao seu peito quando ele chega da aula e deita comigo no sofá. Sua voz é firme, um latido alto e sonoro. Inigualável. Territorial, mas dócil. Adora crianças. E sua simples presença impõe respeito. Junto dele sinto-me tranqüila e serena.

O outro é um Dobermann, também alemão. Pelo marrom, e hipnóticos olhos verdes. Eu nem consigo ficar mirando de frente, rapidamente fico com a barriguinha pra cima para ele coçar. É mais velho do que o Grand Danois, acho que poderia até ser pai dele. Mas essa maturidade é que me detona! Perto dele eu mudo. Não aceito ninguém sentado ao seu lado e se for fêmea eu rosno, rosno e rosno. Se for macho eu também fico ligadíssima, sua atenção deve ser só para mim. Mas ele ri. Ri muito e basta estalar os dedos que eu venho. Basta dizer meu nome: - Úrsula! E acabou. Sou toda dele.

Outro dia o Dogue deixou uma sunga no chão, eu guardei na minha caminha. Vasculhando o quarto do Dobermann, encontrei uma gravata. Não resisti! Recolhi aquele objeto também. Deitei-me exatamente em cima de ambas, tomando cuidado para meu corpo tocar o mais possível cada um dos vestuários deles. E também metade na sunga e metade na gravata. Não deu. A gravata enrolei no pescoço e a sunga ficou aos meus pés. E assim foi.

Com é que a gente se liga tanto nestes detalhes? Uma roupa, um sorriso, uma palavra. Tudo que eles fazem, estou atenta. E parece que eles às vezes nem percebem que estou ali. Entretanto eu os sigo, pela casa toda; o tempo todo.

Se fosse comparar a idade canina deles, o Dinamarquês é muito jovem para mim 2,28 anos e o Dobermann tem 6,7 anos. A minha idade humana seria mais ou menos de 42 anos. Contudo o que separa os animais apaixonados é o comportamento. O que posso dar de atenção e carinho é minha maior preocupação, em segundo plano, o que consigo e aprecio receber.

Entretanto não existe um “carinhômetro” e nem um “atenciômetro”, mas como cachorrinha esperta que sou, quase uma anteninha viva, sei que ambos me amam! Assim ficou fácil, basta eu decifrar aquele que mais tenho afinidades. O que vem sendo impossível. Poderia colocar os dois para brigar, compará-los (as duas coisas que os machos mais detestam é serem testados e comparados) e ver qual ganha. Mas o problema é que eles se dão muito bem. Uma dupla formidável. Aí quem perderia seria eu, e os dois!

Já desisti de minhas elucubrações afetivas. Fico com ambos enquanto der certo. Atualmente faço um revezamento noturno entre os quartos e na hora do almoço dou uma chance para as donas e como na mão delas. No intervalo do dia, quem chega primeiro eu faço festa. E quem chega depois, as gracinhas vão na mesma medida com ronronares – cão também ronrona – e reboladinhas sutis.

E você? Quem escolheria? Entre os magros, fortes, inteligentes e dedicados exemplares? O maior, mais calmo e tranqüilo? Ou o menor, mais elétrico e audacioso? Eu já fiz minha opção, mas não vou contar; quem descobrir, eu confirmo. E na sua casinha? Quem é o dono escolhido? Qual o cão botou a patinha e disse, é ele?

Mais vale um cão na pata do que dois cavando.

Úrsula Maff

segunda-feira, 21 de junho de 2010

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Cesta Cultural: Charles Darwin


"O amor por todas as criaturas vivas é o mais nobre atributo do homem. "

terça-feira, 15 de junho de 2010

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Comprimento do Cumprimento


Ontem minha dona ouviu uma palestra e foi cumprimentar o palestrante. Seu aperto de mão foi frouxo, sem vida, os dedos se escorrendo pela palma sem ao menos pressionar. Ela tentou encaixar melhor, ir à frente e apertar com firmeza. A outra escapou rapidamente, como se não quisesse, evitasse o contato caloroso oferecido ali. Não sabia dar a patinha.

Um animal jamais faria isso. Cães em geral pressentem a chegada de outros com muita antecedência. Eu por exemplo identifico o barulho da moto do papai quando ele vira a esquina. Além de tudo percebo as rotinas de cada um da minha casa. Quando acordam, o que comem. Tudo. Até pelo “- Bom dia, cão”; eu sei como estão...

Devido as minhas dificuldades em entender os humanos estou estudando essa espécie com afinco. Primeiro os cumprimentos. “Bom dia”, pode ser também, “boa tarde”; em francês. Eles o estendem até mais tarde. O meu termina com as refeições. Sigo os donos e me recolho. “- Olá, tudo bem”, em mandarim é ni hao ma? Mas pode ser uma saudação genérica. Os orientais são mais concisos do que os ocidentais.

Nós, apenas fitamos. Olho no olho. Orelhas em pé significam atenção. Rabo para cima também. As quatro patas no chão demonstram sincera audição. Se a minha boquinha ficar mais fechada ainda e eu afastar minha cabeça, estou preocupada. Já vocês balançam a cachola pra lá e pra cá e não sabem se vão ou se ficam. A indecisão é uma grande característica de gente. Ou você já viu cão vacilar?

“Por favor” é algo que quase não vejo mais. O povo está ficando sem educação. A minha cara de “cão pidão” é tão clássica que nem irei descrever. Sempre consigo o que quero, pois sou honesta nas minhas solicitações. Aí minha cauda estará levantada e levemente abanada, sou curiosa, como toda fêmea o é. Reparem sempre no binômio cara-cauda. É tudo que precisa para entender um cachorro.

“Muito obrigado” é pior ainda. Ninguém agradece nada. Até em inglês essa expressão vem sendo abreviada. Thank you virou thanks, na NET ficou “TK”. Essa mania de fonemas escritos dá uma dificuldade danada para eu interpretar no meu “lap dog”. Canídeos são simples, abanou o rabo, está feliz, com a boca escancarada e até babando, por exemplo; na raça boxer.

Mas se ninguém diz “muito obrigado” eu fico chateada. Amuadinha mesmo, abaixo as orelhas e coloco o rabo entre as pernas. Sem medo, que é diferente. Medo é cauda parada. E o “com licença?”, esse inexiste! Quando por exemplo vão passar perto de mim, sem respeitar meu espaço. Em italiano -existem cães deste país que adoro como o cane corso, ou os mastins, especialmente os napolitanos- é prego , que pode ser empregado de várias maneiras, de acordo com o contexto no momento. Mas sempre de um jeito educado e polida. Se não tem nada, eu me transformo.

Aí meu rabo fica parado, levantado ou na horizontal. Os dentes, a gengiva começam a aparecer e eu rosno. Rosno porque tenho ódio de falsidade e má-educação. O povo fica falando que sou agressiva, mas é mentira. É que eu sinto o medo nas palavras, a insegurança nos gestos das pessoas. Aí avanço. E é uma loucura. Minha boca entorna, o latido fica grosso e a cauda – segundos antes do ataque – vai para baixo e fica durinha como uma aroeira.

Se você viu todos os meus dentes é porque vai levar uma mordida das boas. E eu sou fera nisso. Mordo bem, giro minha cabeça e saio rasgando o que for. Calças, botas, jornais e luvas. Se não tem proteção meus caninos penetram fundo na carne macia e mole dos humanos. Já repararam como o couro de vocês é fino e sem pelos? Uma delícia para abocanhar!

Minha sugestão é que vocês comecem a se cumprimentar iguais a nós. Cheirem o bumbum um dos outros... Desta maneira poderão saber o que comem e se são asseados. Gente de rabo sujo é o que não falta! E rabo preso também! Quem tem orgulho do que come e do que é, irá levantar a cauda reluzente, ofertando seus aromas primários até os terciários, como um vinho nobre que os entendidos tanto apreciam. Já os infelizes -de alimentação parca e acostumados à podreira- ocultarão suas partes pudendas, com vergonha de seus hábitos.

E jamais darão bom dia, pedirão um favor, agradecerão ou dirão licença. Humano grosso é também curto. Sem nenhuma noção do comprimento do cumprimento.

Úrsula Maff

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Eu Queria Ser Hipócrita


Até li no dicionário que hipocrisia é o sentimento louvável que não se tem.


Vocês humanos dizem que gostam, mas não gostam. Eu, por exemplo, detesto gatos. Quero que eles morram! Também odeio os peixinhos de aquário que os jovens aqui de casa estão criando. E lato para eles, sempre.


Não consigo fingir. Lá na garagem apareceu uma gatinha com um filhote. Reagi na hora. De maneira agressiva, eriçando meus pelos. Que negócio é esse de invadir meu território? Se não é a minha “doninha” me segurar eu avançava mesmo. E morderia, estraçalharia esses bichos fedorentos que ficam se lambendo e não tomam banho.


Gato é malandro. Safado. Não é fiel. Agora, vocês – as pessoas – cumprimentam as outras e depois fazem comentários maldosos. Por que não latem de uma vez? Demonstrando irritação e desconforto com gente chata? Eu não suporto isso.


Imaginem que num almoço meu dono teve que comer fígado! Ele quase vomitou e ainda elogiou o prato... Coitado! Se fosse eu virava a cara e não comia. Bem, fígado eu gosto, pão eu gosto, biscoitinho Mabel também. Mas se fosse, por exemplo; rúcula, eu nem olhava!


Sinceramente não sei como alguém consegue comer verdura. Coisa de herbívoro. Sou carnívora por excelência. Nunca irei elogiar uma salada com broto de feijão, tomate e alface crespo, que vi meu dono comer hoje. Que nojo!


Entretanto ficou louca na hora de passear. Mal consigo disfarçar a excitação. Vocês quando vão sair, se arrumam todos e ficam com aquela cara meio “blasé”, que hoje em dia se chama “cara-de-paisagem” enrolando e chegam atrasados. Ora, se estão com tanta vontade de ir a uma festa, por que essa enrolação?


Eu não entendo. Sou tão sincera, mas tão honesta mesmo que outro dia tive que sair correndo quando chegou o entregador de pizza. Pois se eu ficasse na porta, trucidava as botas dele. Não ia sobrar nada! Vocês acreditam que ele apertou todos os botões do elevador só porque o meu dono reclamou do molho?


Eu ouvi – e olha que escuto muito bem, entre 10 a 40.000 hertz, e não somente de 16 a 20 mil Hz de vocês – ele pedindo borda com catupiri e veio sem. Um absurdo. Serviço nesse país não funciona. Se fosse na Alemanha, chegava quentinha e com as bordas cheiinhas de queijo. Aí ele chiou, mas depois se desculpou, disse que ficou nervoso. Mas lá da varanda, eu ouvi o sujeito xingando, enquanto ligava a moto.


Outra coisa esquisita é a tosa das mulheres. Não tem uma que não muda o corte. E sempre para pior. Eu sempre uso o mesmo tosador, elas mudam de cabeleireiro. Eu faço o meu “grooming” com as marcas Andis e Oser, com tosquiadeiras limpinhas e tesoura só de carbono. Minha “saia” fica boa e os pelos das patas tão lisos que parece escova permanente. Mas cão não faz “chapinha”. Tem pelo liso de nascença e crespo também. Está satisfeito com suas origens. Mulher é o contrário, se a pelagem é lisa, quer enrolar, fazer “bigudim”, e outras coisas horríveis... e se é crespa, dana a colocar formol e mil químicas no pelo! Imagina se um cão faz isso? Jamais!


Cachorra que é cachorra não fica mudando de visual só porque está deprimida ou perdeu uma cruza. Cadela de personalidade vai ao Pet Shop e se arruma para si e não para a matilha. Por essas e outras é que não sou hipócrita, mas queria, acho que sofreria menos.


Úrsula Maff

sábado, 5 de junho de 2010

Público e Privado

Umas das coisas que mais gosto é andar de carro. Lá em casa tem dois. Um grandão e um pequeno. Prefiro o conversível. Pois rodando o tempo todo com as patas na porta e o ventão batendo na minha cara, fazem-me imensamente feliz.

Nos fins-de-semana, ou quando ele chega mais cedo do trabalho – vai buscar sua filha no colégio – eu sei que irei sair no automóvel. Fico correndo pela casa, tamanha a excitação. Mas não urino no local errado e nem faço cocô. Espero o momento da saída. Quando não dá, eu tenho aquela região já previamente coberta com o jornal que me sirvo bem.


Infelizmente assim que o veículo prateado, de bancos vermelhos, origem alemã como eu, adentra na luz do sol, sinto o drama do trânsito. Os humanos confundem claramente as coisas. O público com o privado. O carro é de um só, mas a rua é de todos.


Eles conseguem cagar em tudo! Utilizam o lado esquerdo para circular, em vez de somente para ultrapassar. Jogam coisas no chão. Estacionam em fila dupla e ficam buzinando na porta dos colégios. Imagina-se que no local onde se recebe uma boa educação eles – os adultos – chegam mostrando justamente a falta dela.


Um péssimo exemplo para os filhotes em formação. Eu, espero meu dono estacionar e só desço depois que ele abre a porta. Tenho modos. Ele jamais fica parado no meio do caminho, vai comigo buscar a sua filhotinha. Seus cumprimentos são afetuosos, esfregam bem os rostos e se beijam. A maioria dos pais nem fala nada, abre a porta com pressa e saem com seus carros fechados e vidros escuros.


Fico imaginando o que conversam. Será que os pais sabem os nomes dos colegas? Ou só olham o boletim? Será que avaliam seus filhos pelo caráter, comportamento social, suas amizades? Ou só estão preocupados em desempenho? Aqui em casa há muito respeito. Cada um tem sem ninho próprio, apesar de eles ficarem juntos a maioria do tempo. Batendo papo.


Ninguém lê as coisas dos outros e acho que o papai nunca nem abriu a porta do armário da mamãe. Outro dia ela viajou e deixou a bolsa e o celular em cima da mesa e ele nem mexeu! É por essas e outras é que eles têm total segurança em me soltar no parque. Eu saio correndo em desabalada carreira, igual ao Spyder dele. Mas basta um assovio e estanco. Volto meu pescoço e retorno correndo mais rápida do que já fui.


Em nenhum momento ataco os outros cães ou as pessoas. cheiro. E sei que eles morrem de inveja de mim, pois estou sempre solta. Evito conflitos. Não estou na minha casa, onde faço o que quero. E até lá tem limites.


Entretanto o que vejo nas esquinas é uma confusão tão grande, que nunca conseguirei entender como um carro pára na sombra, se eles têm capota e ar-condicionado! Ou porque ficam acelerando e se movimentando com o sinal fechado, como se fossem avançar numa presa. Um cão em posição de ataque é imóvel e só vai na certeza.


É um absurdo o raciocínio egoísta dos humanos. Eles conseguem formar bandos imensos, vilas, cidades; mas não conseguem trafegar entre si sem se xingarem, latirem e mostrar os dentes.


Sugiro uma voltinha com meu dono. De carro. De chapéu. De lenço voando. De pelo ao vento. Cumprimentando sorridente aos amigos e dando passagem aos coitados que têm pressa de ir e que nunca vão saber viver. Pois o segredo está no caminho bem feito, e não na saída ou na chegada.


Úrsula Maff

quinta-feira, 3 de junho de 2010

A Seleção Brasileira


Vocês podem se perguntar o porquê de um cão se interessar por esse tema. É simples. Reflete exatamente o comportamento de um bando. Times de futebol, nesse país de pernas de pau, pseudo-técnicos e palpiteiros em geral, são o que são os brasileiros. Se cão jogasse bola, teria classe, habilidade, sentido de grupo e resolveria o problema do seu jeito, se por ventura ficasse sozinho. Raça? Todo cachorro tem. Não precisa ser cobrada e nem valorizada, é intrínseca.

Primeiro, a época. Por que será que só na Copa do Mundo o povo presta atenção no futebol? Reúnem-se em frente àquela caixinha quadrada, que ultimamente ficou comprida, e ficam latindo em voz alta uns com os outros e tem momentos que mandam calar a boca. Cachorro nunca faz isso. Quando um fala o outro abaixa a orelha. Eu preferencialmente, uivo.

No dia-a-dia, futebol é só para os viciados. Preferem mil vezes o time local a seleção. Não usam bandeiras do Brasil e nem as cores do país em suas roupas e objetos de uso próprio. O coitado do meu dono, foi estudar na Europa em 1994, ficou impressionado com o patriotismo saudável dos humanos de lá. Quando chegou, tentou comprar uma bandeirinha do seu país para colocar no consultório – ele é médico-humanitário, mas deveria ser veterinário – e só foi achar um exemplar fuleiro, numa livraria e papelaria lá no centro da cidade.

Vocês acreditam que este enfeite tão significativo para ele (como é besta o meu dono...) só é notado de quatro em quatro anos, na época da Copa? E olha que fica lá o tempo todo. O povo vê os carrinhos, as motos, os animais copulando, a foto da família, mas o símbolo do país, nada!

A escolha dos jogadores seguiu a linha de mediocridade que grassa neste território. Todos bem adestrados. Já até imaginei o dono deles – que vocês chamam de técnico – mandando nos rapazes: senta, levanta, junto, vamos, pega, morto, fica. Que lixo. Um bom líder comanda só de olhar. Não precisa rosnar, muito menos latir, como esse aí que aparece na TV em posição de defesa, com os braços cruzados, orelhas caídas e cauda entre as pernas. Um covarde agressivo!

Meus humanos criam peixes. Os anabantídeos. São lindos, fortes, coloridos, magros, respiram fora e dentro d’água. Atacam com precisão suas fêmeas, dominando-as como se fosse a bola. Hora com carinho hora com agressiva posse. Chamam-se respectivamente Ganso, Neymar e Robinho. Por que somente o terceiro foi convocado?

Desde quando experiência é prerrogativa de comportamento animal? Se tudo de bom que temos é genético? Vem de família? O aprendizado é necessário, tudo bem, mas o instinto primal é que vale. Ou você duvida que se um deles ficar focinho-a-focinho com o goleiro adversário vai dar chutão? Lógico que não! Craque é cão de seleção, coloca no canto ou por cima do goleirão. Cãopreenderam?

Minha revolta é tão grande que nem vou assistir aos jogos. E olha só que serão no meio da tarde, só para o povaréu matar o trabalho. Vou me programar para uma bela voltinha no quarteirão ao entardecer, no friozinho de junho. Enquanto vocês deveriam valorizar mais os atributos inerentes dos brasileiros, tais como a criatividade, a alegria o bom humor e protestar pela a escolha de um time que quase nunca abana o rabo e quando o faz é pro dono errado.

Úrsula Maff