Nos fins-de-semana, ou quando ele chega mais cedo do trabalho – vai buscar sua filha no colégio – eu sei que irei sair no automóvel. Fico correndo pela casa, tamanha a excitação. Mas não urino no local errado e nem faço cocô. Espero o momento da saída. Quando não dá, eu tenho aquela região já previamente coberta com o jornal que me sirvo bem.
Infelizmente assim que o veículo prateado, de bancos vermelhos, origem alemã como eu, adentra na luz do sol, sinto o drama do trânsito. Os humanos confundem claramente as coisas. O público com o privado. O carro é de um só, mas a rua é de todos.
Eles conseguem cagar em tudo! Utilizam o lado esquerdo para circular, em vez de somente para ultrapassar. Jogam coisas no chão. Estacionam em fila dupla e ficam buzinando na porta dos colégios. Imagina-se que no local onde se recebe uma boa educação eles – os adultos – chegam mostrando justamente a falta dela.
Um péssimo exemplo para os filhotes em formação. Eu, espero meu dono estacionar e só desço depois que ele abre a porta. Tenho modos. Ele jamais fica parado no meio do caminho, vai comigo buscar a sua filhotinha. Seus cumprimentos são afetuosos, esfregam bem os rostos e se beijam. A maioria dos pais nem fala nada, abre a porta com pressa e saem com seus carros fechados e vidros escuros.
Fico imaginando o que conversam. Será que os pais sabem os nomes dos colegas? Ou só olham o boletim? Será que avaliam seus filhos pelo caráter, comportamento social, suas amizades? Ou só estão preocupados em desempenho? Aqui em casa há muito respeito. Cada um tem sem ninho próprio, apesar de eles ficarem juntos a maioria do tempo. Batendo papo.
Ninguém lê as coisas dos outros e acho que o papai nunca nem abriu a porta do armário da mamãe. Outro dia ela viajou e deixou a bolsa e o celular em cima da mesa e ele nem mexeu! É por essas e outras é que eles têm total segurança em me soltar no parque. Eu saio correndo em desabalada carreira, igual ao Spyder dele. Mas basta um assovio e estanco. Volto meu pescoço e retorno correndo mais rápida do que já fui.
Em nenhum momento ataco os outros cães ou as pessoas. Só cheiro. E sei que eles morrem de inveja de mim, pois estou sempre solta. Evito conflitos. Não estou na minha casa, onde faço o que quero. E até lá tem limites.
Entretanto o que vejo nas esquinas é uma confusão tão grande, que nunca conseguirei entender como um carro pára na sombra, se eles têm capota e ar-condicionado! Ou porque ficam acelerando e se movimentando com o sinal fechado, como se fossem avançar numa presa. Um cão em posição de ataque é imóvel e só vai na certeza.
É um absurdo o raciocínio egoísta dos humanos. Eles conseguem formar bandos imensos, vilas, cidades; mas não conseguem trafegar entre si sem se xingarem, latirem e mostrar os dentes.
Sugiro uma voltinha com meu dono. De carro. De chapéu. De lenço voando. De pelo ao vento. Cumprimentando sorridente aos amigos e dando passagem aos coitados que têm pressa de ir e que nunca vão saber viver. Pois o segredo está no caminho bem feito, e não na saída ou na chegada.
Úrsula Maff
nina e tudo
ResponderExcluirNina,
ResponderExcluirCada cão é tudo para o seu dono.
Úrsula Maff
andar de carro, com o ventinho no rosto... hum... sensação maravilhosa, verdadeira comunhão com o caminho.
ResponderExcluirvocê fez uma observação muito interessante, nós, pais humanos, deveríamos nos preocupar em dar o exemplo 24 horas por dia! não se tira férias de ser pai ou mãe! alguns pais fazem grandes besteiras na frente de seus filhos, relacionadas com o comportamento em sociedade então, nem se fala. nosso comportamento no trânsito é o campeão de intolerância e falta de educação, há desde parar fora da faixa, não parar no sinal vermelho, parar em cima da calçada, até atropelar e fugir, que é o extremo da incapacidade de se relacionar com o outro. uma verdadeira guerra. uma das coisas que mais me provoca desgosto no trânsito é ouvir as agressões verbais, muitas imediatamente preconceituosas e relacionadas com a cor do outro, a nacionalidade, ou com o fato de ser mulher, ou idoso, ou.. sei lá, o ser humano impõem tanta barreira a si mesmo. detesto barreiras.
é bonito quando há relações plenas de afeto entre humanos, que aproveitam cada momento quando estão juntos, assim como você disse que é o seu dono e a filhota dele.
eu não dirijo e não tenho a menor vontade, questão de opção mesmo. acho que sou como você, gosto de sentir vento no rosto, fechar os olhos, sentir o caminho, viajar com o percurso.
parabéns pelas avaliações do que encontra pelo caminho, na vida e no trânsito, você é uma “co-piloto” de primeira. adorei sua crônica!
carinhos variados para você.
Com esse luxo todo, será que pelo menos sua carne é boa de comer?
ResponderExcluirFala pro seu dono, que o que ele gasta com você por mês deve dar pra matar a fome de umas 3 famílias brasileiras!
faz um twiter jb
ResponderExcluirBetina,
ResponderExcluirO trânsito é de doer, não? Mas felizmente cada momento que passo com o meu bando é de prazer e ensinamentos fundamentais.
Se você andasse de moto aí iria ver como é agressiva a condução de ambos. O não motoqueiro e o próprio. Desabono ambos.
Engraçado que eu acho sempre que o papai está me levando para passear, mas na realidade ele aproveita cada instante trivial e diário para fazer disso uma festa.
Um cheiro,
Úrsula Maff
Olá anônimo,
ResponderExcluirEu não entendi se a carne é a minha mesmo. Aí você deve vir da China ou do sudoeste asiático, para comer carne de cachorro... Mas eu garanto que não é boa, pois sou magra e ossuda. Na realidade tenho é mais pelo do que pele...
Se for a que eu como, que é uma bolinha de 50g de coração de boi que ganho nos domingos, essa é gratuita.
Os gasto mensais comigo são irrisórios. E a nossa família, como é de origem européia, faz contas anuais... Mas vamos lá:
Água - da torneira, de graça
Ração - 02 sacos ( R$ 2 x 178,00 ) uma dá para 6 meses...
Vacina anual - nas campanhas é de graça, mas ele faz questão de me levar no veterinário, fica em R$ 40,00 a consulta + vacina
Banho e tosa - bimestral ( 6 x R$ 35,00 )
Coleira anti-carrapato - 02 (semestral 2x R$ 48,00)
Somados todos estes valores o montante ficou em R$ 902,00 que divididos por 12, eu custo em média R$ 75,00 mensais.
Nese último ano, minha ninhada foi de 7 filhotes - que batizamos com o nomes dos sete anões - e 04 machos e 03 fêmeas. Por eu ser campeã, rústica e bem adestrada, vendemos os machos por R$500,00 (se bem que o Zangado foi R$ 700,00...) e as fêmeas por R$ 1.000,00. Somados tivemos um ganho de R$ 5.000,00 que divididos por 12 dá uma média de ganhos de R$ 416,66 mensais.
Por essa continha simplória você vê que eu dou um lucro de 300% ao mês.
Mas o prazer deles conviverem comigo não tem preço, né?
Quanto a família brasileira média-padrão (04 pessoas), ela gasta em alimentação mensalmente o custo de R$ 1.200,00 se fizermos uma conta de R$ 10,00 por dia que é o custo mediano de um restaurante por kilo.
Então vejo que você está completamente equivocada. E só por curiosidade, a mamãe gasta R% 1.000,00 aqui em casa para alimentar os 04 do bando. E olha que os machos são atletas, grandes e comem muito!
Foi interessante fazer estas contas... 03 famílias brasileiras gastariam R$ 3.600,00.
Isso porque eu coloquei classe média, a qual pertenço. Se for a conta da cesta-básica, a mais cara é - segundo o DIESE - R$ 104,00 - para um adulto, multiplicando por 4, fica o valor de R$ 416,00 (uma família) e as três que você citou anteriormente custariam R$ 1.248,00.
Espero que tenha ficado claro a relação custo-benefíco de um cão e de uma família. Mas uma dica: um cão sempre faz parte da família!
Au,au, auuuuuuh,
Úrsula Maff
Anônimo que pediu o tuíter,
ResponderExcluirJB é o dono. Eu sou o cão.
Não dá, o meu quinto dedo (o unhão) não consegue teclar tão pouco.
Vou pensar.
Auf,
Úrsula Maff
Linda!!!
ResponderExcluirNão liga com comentários maldosos ainda mais vindo de anônimos.Não há dinheiro que pague a alegria que vc proporciona a família que vc mora .Bj Théa
Oi Mel,
ResponderExcluirFoi maldoso? Nem percebi...
Pensei que estivesse enganada, só isso.
Cachorrinha é meio bobinha, inocente, animal não tem malícia.
Pedi pro meu dono os dados estatísticos, para ficar claro, né?
Eu nem ligo.
Lambidinha pra você bonitona,
Auf, auf,
Úrsula Maff