“Na Natureza Selvagem”
Li o este livro de John Krakauer, assim como a maioria das pessoas me deslumbrei anteriormente com “No Ar Rarefeito”. Mas este relato, quase um documentário, é mais do que o mergulho de um jovem em si mesmo e contra o status quo do sistema norte-americano vigente. O famoso american way of life. É um passeio dentro da América profunda, que é infinitamente mais bonita do que as grandes bolsas de consumo como Los Angeles, Nova Iorque e Miami. O filme resgata as grandes perguntas do ser humano: quem somos? De onde viemos? E para onde vamos?
Formado, rico, bem-nascido e leitor assíduo de Thoreau, Tolstoi e Jack London o garoto larga tudo. Vale a pena dizer que o primeiro é o ensaio do ecologista atual e seu livro “A Desobediência Civil” é um libelo de auto-suficiência, ele que morou numa palhoça a beira do lago Walden. Tolstoi era “fãzaço” de Thoreau, nem precisa falar mais nada. Contudo meu predileto é Jack London. Em toda sua obra é mostrada a luta do homem contra Natureza, ocasionalmente se integrando, e na maioria das vezes, sucumbindo.
Cenas belíssimas e fotografia muito rica. O deserto e suas cores esmaecidas no final da tarde. Os hippies - repare que ele procura incessantemente a figura do pai aproximando-se de todo homem mais velho e procurando sincera amizade – tão livres e ao mesmo tempo a mulher com uma carga pesadíssima do passado. O cinturão agrícola e a vida simples. Depois as corredeiras, a nudez espontânea. O México. A fronteira formal e a fronteira ideológica. E então a ascensão geográfica até o destino final: o Alaska.
Estive no lugar mais bonito do mundo em 2002 com meu filho nascido em 1994. O Alaska é a última fronteira. Os animais são vistos o tempo todo, a vida explode na primavera. Campos cobertos de flores. Mas a Natureza é muito realista e cruel.
O ator Emile Hirsch vai mostrando suas mudanças corporais através de um cinto autobiográfico. Sua interpretação é fruto do estilo melancólico do diretor Sean Pen, minimalista, sutil, verdadeira. Lindo. A maneira como aborda as pessoas, como conversa... um sujeito encantador. E sozinho fica, como tanto sonhou. Mas aí é que mora o perigo.
O filme não mostra os milhões de insetos que existem no Alaska. Porém as descrições de caça estão corretas. Se na teoria o rapaz é fantástico em questionar a sociedade, queimar dinheiro, não dar notícias aos pais e se afastar quando os relacionamentos interpessoais tornam-se mais intensos, na prática; ele é um ingênuo idiota.
Duas cenas emblemáticas: não matar o filhote de alce (carne tenra, em quantidade adequada, pois ninguém consegue comer um alce adulto sozinho, ou mesmo descarná-lo e guardar a carcaça) e colher uma planta CAL; cabeluda, amarga ou leitosa. Esses pequenos conhecimentos de sobrevivência na selva são fundamentais. Nenhum dos autores supracitados, no segundo parágrafo, irão salvá-lo da inanição.
O final é tranquilo, sereno e calmo. Fica conosco a discussão de valores da sociedade moderna consumista e o isolacionismo atual das pessoas. Será que ele, se amado fosse, partiria em busca de si e encontraria respostas? Ou faltou o abraço sincero do pai e a sensação da família para que o Alaska interior fosse apenas seu coração?
O que há de bom: cenário esplêndido, ator muito bom e roteiro delicado
O que há se ruim: a Natureza não é boa em má, apenas um ciclo; nascer, comer, reproduzir e morrer
O que prestar atenção: a trilha sonora é tão adequada que parece integrar os cenários com discrição e ao mesmo tempo poderosa emoção
A cena do filme: perdoando o filhote, nenhum predador faria isso, ele não conseguiu integrar-se a Natureza, pois a desconhecia profundamente tal e qual sua própria pessoa
Cotação: filme ótimo (@@@@)
úrsula,
ResponderExcluireu tenho acompanhado aqui suas postagens de cinema com as resenhas do seu titio, o Cobra. são ótimas resenhas! sem dúvida posso dizer que são de qualidade literária superior! parabéns para você por compartilhar aqui conosco e parabéns ao seu titio por saber tanto de cinema e literatura.
eu quero aproveitar a excelente resenha do belíssimo filme em questão para destacar um pensamento por ser exatamente o que eu penso e repito todas as vezes em que alguém me diz a patética frase "a natureza está se vingando" se referindo aos desastres naturais, catástrofes e outras situações NATURAIS que sempre aconteceram, “desde que o mundo é mundo”, atribuindo uma carga humana de sentimentos baixos e mesquinhos como o da vingança ou da traição aos processos puramente naturais. a frase do Cobra é prefeita:
a Natureza não é boa em má, apenas um ciclo; nascer, comer, reproduzir e morrer
afagos, mocinha.
Olá Betina-fãzinha
ResponderExcluirVocê acha que um movimento sísmico que ocorre debaixo de milhares de kilômetros tem a ver com mamíferos bípedes que infestam este planeta?
Quanto convencimento deles, não?
Úrsula Maff
é o que eu penso também, ego, ego, e mais ego humano, sempre!!!!
ResponderExcluir:)
Olá humana,
ResponderExcluirDespido do ego, só resta aos humanos ajudarem uns aos outros, mas quem o faz?
Úrsula Maff