domingo, 24 de julho de 2011

Quinta está no ar, cinema: ENTERREM MEU CORAÇÃO NA CURVA DO RIO

Este filme tem uma mensagem de resistência de amor a suas origens. Cães gostam disso.
Escrita a resenha pelo titio "COBRA", ele começa com um parágrafo falando de histórias em quadrinhos e disserta sobre leituras. Gosto tanto da cultura "pop" como da literária. Ótimo texto.

Aproveitem...

“Enterrem Meu Coração na Curva do Rio”

Você lê revistas em quadrinhos? Não? Está na hora de começar. Sugiro que leiam – os aficionados pelo velho Oeste e a cultura indígena – Mágico Vento. O autor é Bonelli e existe em português. E o que isso tem a ver com esse filme? Simples, o gibi retrata muito melhor do que vários livros, ambos os massacres e suas razões políticas. O primeiro de Little Big Horn – onde morre o General Custer, enviado para se ferrar – e o segundo do riacho Wounded Knee que ficava no meio da reserva Pine Redge.

No final do século XIX, os índios estão reunidos e encurralados. Não há mais pastagens para todos. O homem branco, igual a gafanhotos, vem invadindo e destruindo o que pode. As estradas de ferro trazem atiradores que matam -por esporte- milhares de búfalos, a fonte protéica por excelência da maioria das tribos. Apenas Touro Sentado não participa das assembléias e não assina o tratado das reservas. Nuvem Vermelha, mais velho, concorda. Ambos são sábios e grandes líderes.

Paralelamente a história de Ohiyesa é descrita. Filho de um índio com uma branca, é buscado em sua tribo Sioux pelo pai, vai ser educado como branco. As cenas do trem são muito bonitas, assim como o dia-a-dia indígena. Fotografia cheia de focos e desfoques, com enquadramentos ricos em diagonais.

Ohiyesa torna-se Charles Eastman. Fica amigo do senador, é tido como exemplo. É um médico. Enquanto isso Touro Sentado faz um périplo pelos EUA, levando sua tribo até o Canadá. Lá é aceito para depois ser rechaçado. Sua autoridade é posta em dúvida, ele é o chefe.

Eastman vai para uma reserva onde está Touro Sentado, vê de perto o sofrimento de sua raça e o diálogo áspero com o Senador, que um dia o fez médico e deu-lhe vida confortável é poderoso, marcante. O choque está feito. Touro Sentado enfrenta a autoridade local, não respeita as regras, mas sem violência. Sua presença moral é imensa. Um homem possui três grandes forças: a física, a mental e a moral. Touro Sentado é um dos raros que exibe todas sem oprimir ou humilhar ninguém.

Os sioux estão tristes, quase patética a cena da “caça” de um jovem no curral dos touros. Cheio de significados e significância a breve discussão entre Touro Sentado e o chefe da reserva. Além de inteligente, Touro Sentado dispõe de fina ironia.

O filme é triste, assim como o olhar dos índios. Toda uma cultura e civilização destruída por outra. Quem é mais moderno e justo? Aquele que vive em igualdade, abolindo a propriedade privada – nem existe um nome em quaisquer línguas indígenas para isso – ou aquele que expulsa o rival, barganhando com dinheiro e poder os interesses escusos que estão ocultos? Interesses maiores do que a Black Hills, até.

Termina de maneira melancólica. Não tem jeito. Mas o registro é tão belo e as discussões tão atuais, que merece ser visto.

O que há de bom: fotografia bela e temas bem pertinentes à história americana

O que há de ruim: o livro é famoso e o li na minha adolescência, mas o filme é recente (essa juventude inculta que nada lê pelo menos veja) e pouco sucesso fez

O que prestar atenção: a palavra assimilação não é sinônimo de imposição

A cena do filme: a imponência de Touro Sentado, ao censurar os jovens só com olhar, depois de ouvir fofocas a seu respeito

Cotação: filme bom (@@@)

Giovanni Cobretti, o COBRA

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