“Bonequinha de Luxo”
Cena inicial, manhã de domingo em Nova Iorque, uma mulher muitíssimo bem-vestida desce do taxi e vai mirar as jóias da mais célebre casa do mundo neste quesito, Tiffany´s. Ela vira-se: misto de mulher e menina, rosto fino, gestos delicados, um sorriso arrebatador mesmo com a boquinha fechada, as costas, o cabelo volumoso preso, os óculos escuros meio-gatinho, o sonho na boca que até cheia é linda! Ela; se não é perfeita, chega muito perto. Audrey Hepburn é um doce.
Até o nome da personagem é charmosésimo: Holly Golightly, ou Lula Mei Barnes, uma menina que se casou aos 14, no interior, mudou-se para a capital no intuito de virar artista e depois caiu na vala comum da prostituição. Mora no apartamento de baixo de um japonês chato que não merece mais do que uma aparição ou duas no filme inteiro. E recebe em casa com a maior naturalidade um sujeito que nunca viu e em poucos minutos ele sabe tudo da história dela. Desde o gato até a bagunça organizada em que ela vive. Seu segundo vestido “um pretinho básico” torna-se um imediato objeto de desejo mundial, apenas pelo segredo do chapéu com apenas um lenço esvoaçante... Audrey é moda.
Lendo assim fica inverossímil, mas a atuação magnífica e sedutora de Audrey, faz-nos imaginar exatamente aquilo que qualquer homem pensaria. O que faz uma mulher como essa numa vida desse jeito? Ela; na segunda fala, já no apartamento dele – que também é remunerado pelas mesmíssimas razões que ela – sua naturalidade coloca-a deitada no peito nu do novo amigo. E esse resiste ao irresistível. Audrey é mágica.
Num vai e vem de festas e paqueras de milionários ela mostra uma máscara defensiva gigantesca. Uma barreira imensurável entre seus verdadeiros e ocultíssimos desejos, e a vontade de ficar rica a qualquer preço. A cena da festa, com a piteira, mostrando as figurinhas típicas de uma boca livre qualquer é apenas um desfile de sua beleza inexplicável. Hepburn torna-se eterna.
O sujeito está apaixonado, louco por ela e quando o antigo marido aparece, num “savoir faire” quase que impossível, ele a ajuda. Saem juntos, ela bebe muito e quase me esqueço da cena em que ela canta “Moon River”, simplesinha, de toalha na cabeça e calça jeans, mostrando umas pernas grossas e fortes que não ocultam o seu passado de bailarina. O tal escritor, leva um fora memorável. Hepburn é difícil.
Então, no outro dia saem para passear e nos deleitamos com uma das mais belas sequências de namoro do cinema. Aquele leve, descompromissado, quase infantil, cheio de brincadeiras, ela mostra todo seu arsenal de caras e bocas em que até cego ficaria maluco. Um beijo. No outro dia ele vai ao seu encontro. E ela sabe ser séria quando quer, e dura também. Audrey é um enigma.
Um novo marido, um novo país, o Brasil. Imaginem como seria exótico, vir para cá em 1961! E o cara agüenta aquilo tudo. Mas pelo menos vira homem e desiste de sua amante que o sustenta e volta a escrever. Um novo escândalo. Como mulheres encantadoras têm uma facilidade para se envolverem em roubadas, não? Audrey é livre.
Começa a chover, ela se desfaz do gato que com ela coabitava, como se recusasse a ser quem é. Selvagem, uma força da Natureza. Ouve então a verdade do único que a enxergou como um ser humano, uma pessoa capaz de amar e ser amada. Toca Moon River e eles se beijam. Até Audrey Hepburn, é humana.
O que há de bom: uma mulher em todo seu esplendor, fazendo a prostituta mais bela e bem vestida de todos os tempos
O que há de ruim: a presença inoportuna de Mickey Rooney no dispensável papel de senhor Yonioshi
O que prestar atenção: e imaginar que esse papel seria de Marilyn Monroe, e a música de Henri Mancini seria de Gordon Jenkins, impossível!
A cena do filme: cada aparição - com um novo figurino - de Audrey Hepburn ficará na memória fashion de todas as mulheres da época, e para os homens apenas ela; e mais nada
Cotação: filme ótimo (@@@@)
eu posso dizer que sou fã dos dois, da moça e do seu titio Cobra, que escreve bem demais!
ResponderExcluirafagos, querida.
Olá Eleonora,
ResponderExcluirTitio COBRA é profissa. Eu sou amadora. Agora, essa moça aí eu imito-a o tempo todo...
Úrsula Maff