domingo, 8 de janeiro de 2012

Quinta está no ar, cinema: ASAS DO DESEJO




Meu titio COBRA escreveu há tempos esta resenha, e eu adorei. Acho que anjos existem. E são vários. Muitos de quatro patas, raros de duas. A única coisa em comum é que ambos têm asas!


“Asas do Desejo”
O filme é de 87, em Berlim, a tradução literal seria “O Céu Sobre Berlim”. E começa em P&B com um poema belíssimo de Peter Handke, “Song of the Childhood”. Dois anjos observam a cidade, de cima e por dentro. Eles ouvem os anseios humanos, eles ocasionalmente os tocam, se aproximam e sutilmente dialogam, colocando idéias e ideais de sonho e resolutividade em suas dúvidas.
Não há diálogo. Somente pensamentos. As crianças podem senti-los e sorriem, em nenhum momento percebemos se elas realmente podem vê-los. Assim como os anjos caídos, personagem de uma carga poética incrível, de Peter Falk sendo Colombo, o ator vivendo seu personagem. Este apenas percebe a presença angelical. O mundo é cinza para os anjos e colorido para os humanos.
Mas é mais profundo do que isso. Eu diria que no momento em que existe amor, tudo se torna colorido. Como na primeira cena a cores, reparem. Já que no final ele “converte-se” em humano. Aliás, esta dubiedade de ser anjo e ajudar, mas nunca ter desejo e saborear as pequenas coisas que a vida nos dá é o cerne do filme e do roteiro.
Vejam por exemplo as crianças – e porque não citar também os animais, com os quais tenho inteira identidade e acerto – elas são as que fazem as perguntas mais difíceis e filosóficas do filme: - quem somos de onde viemos e para onde vamos? E o anjo caído quando enfim se liberta da vida monocromática, sorri à toa, esfrega as mãozinhas e tudo mais... E o que são os grandes homens afinal, simplesmente meninos crescidos que guardaram dentro de si a espontaneidade infantil e a capacidade de sonhar?
Você mulher, que dá uma guinada em sua vida e deixa de sonhar, relega a poesia de lado, abandona o irracional, não percebe que se mata a cada dia? Por outro lado, você rapaz, que só é o que os outros mandam ser, que obedece cegamente suas fêmeas – sejam a mãe, a esposa, a irmã e as vadias – não percebe que sua espiritualidade perde-se na sua inocência?
Ninguém vê isso. Os anjos, sim. Mas um deles deseja e o desejo é o que move o mundo. Um lápis pode ser pego na sua essência, um livro – tal como o excelente Hommes de XXe Siècle de August Sander, que o velho folheia na biblioteca – idem, mas o amor é sinônimo de humanidade.
Nick Cave toca, uma tríade que vai da igreja de coral ao rockão visceral. A música, sempre é dos deuses. Assim como o saber idem. Ou você ainda discorda que uma biblioteca é onde se encontram mais anjos, sejam caídos ou não?
O final é auspicioso. Deleite de monólogo, já que somente ela fala e ele a beija. Deixando o anjo de lado o visual de detetive dos anos 50 para o colorido atemporal da paixão.
O que há de bom: roteiro poético, exige calma e atenção
O que há de ruim: além do alemão que sou fraco e do japonês que nada sei, ouço inglês, espanhol e francês no filme, o que às vezes me impede de ouvir as vozes do coração
O que prestar atenção: o filme é baseado na poesia de Rilke “Elegias a Duíno”
A cena do filme: a procura da praça “Potsdamer Platz” pelo velho em que ela torna-se quase que uma lembrança imediata e a paisagem das crianças ali brincando, o que reforça que o verdadeiro sentimento, é atemporal
Cotação: filme excelente (@@@@@)

COBRA

Obs: além das bibliotecas, anjos também são fáceis de serem encontrados em Zoos, escadarias e matas ao redor das cidades, amando

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