quinta-feira, 3 de junho de 2010

A Seleção Brasileira


Vocês podem se perguntar o porquê de um cão se interessar por esse tema. É simples. Reflete exatamente o comportamento de um bando. Times de futebol, nesse país de pernas de pau, pseudo-técnicos e palpiteiros em geral, são o que são os brasileiros. Se cão jogasse bola, teria classe, habilidade, sentido de grupo e resolveria o problema do seu jeito, se por ventura ficasse sozinho. Raça? Todo cachorro tem. Não precisa ser cobrada e nem valorizada, é intrínseca.

Primeiro, a época. Por que será que só na Copa do Mundo o povo presta atenção no futebol? Reúnem-se em frente àquela caixinha quadrada, que ultimamente ficou comprida, e ficam latindo em voz alta uns com os outros e tem momentos que mandam calar a boca. Cachorro nunca faz isso. Quando um fala o outro abaixa a orelha. Eu preferencialmente, uivo.

No dia-a-dia, futebol é só para os viciados. Preferem mil vezes o time local a seleção. Não usam bandeiras do Brasil e nem as cores do país em suas roupas e objetos de uso próprio. O coitado do meu dono, foi estudar na Europa em 1994, ficou impressionado com o patriotismo saudável dos humanos de lá. Quando chegou, tentou comprar uma bandeirinha do seu país para colocar no consultório – ele é médico-humanitário, mas deveria ser veterinário – e só foi achar um exemplar fuleiro, numa livraria e papelaria lá no centro da cidade.

Vocês acreditam que este enfeite tão significativo para ele (como é besta o meu dono...) só é notado de quatro em quatro anos, na época da Copa? E olha que fica lá o tempo todo. O povo vê os carrinhos, as motos, os animais copulando, a foto da família, mas o símbolo do país, nada!

A escolha dos jogadores seguiu a linha de mediocridade que grassa neste território. Todos bem adestrados. Já até imaginei o dono deles – que vocês chamam de técnico – mandando nos rapazes: senta, levanta, junto, vamos, pega, morto, fica. Que lixo. Um bom líder comanda só de olhar. Não precisa rosnar, muito menos latir, como esse aí que aparece na TV em posição de defesa, com os braços cruzados, orelhas caídas e cauda entre as pernas. Um covarde agressivo!

Meus humanos criam peixes. Os anabantídeos. São lindos, fortes, coloridos, magros, respiram fora e dentro d’água. Atacam com precisão suas fêmeas, dominando-as como se fosse a bola. Hora com carinho hora com agressiva posse. Chamam-se respectivamente Ganso, Neymar e Robinho. Por que somente o terceiro foi convocado?

Desde quando experiência é prerrogativa de comportamento animal? Se tudo de bom que temos é genético? Vem de família? O aprendizado é necessário, tudo bem, mas o instinto primal é que vale. Ou você duvida que se um deles ficar focinho-a-focinho com o goleiro adversário vai dar chutão? Lógico que não! Craque é cão de seleção, coloca no canto ou por cima do goleirão. Cãopreenderam?

Minha revolta é tão grande que nem vou assistir aos jogos. E olha só que serão no meio da tarde, só para o povaréu matar o trabalho. Vou me programar para uma bela voltinha no quarteirão ao entardecer, no friozinho de junho. Enquanto vocês deveriam valorizar mais os atributos inerentes dos brasileiros, tais como a criatividade, a alegria o bom humor e protestar pela a escolha de um time que quase nunca abana o rabo e quando o faz é pro dono errado.

Úrsula Maff

6 comentários:



  1. Vim através do cãovite da Betina,
    fazer cãopanhia e uivar cãotigo!

    AhAuAhAuAh!

    Cãoprendi, captei qual é o craque!

    Cão carinho,
    Tonho

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  2. hahahaha,

    úrsula, você está me saindo uma grande comentarista!

    adorei suas comparacães. muito inteligentes.

    dos peixes de seus humanos tenho acompanhado a carreira do ganso, nos campos, não no aquário... ele é bom para cachorro! eu, apesar de fêmea e pacífica, adoro futebol, e o ano todo! e levo meus filhotes sempre comigo. a última vez que fui foi para ver botafogo X goiás, aqui no engenhão (é o estádio do botafogo-ô-ô-Ô), torço feliz, canto com a torcida, mas não xingo nenhum palavrão, acredita?

    cachorro também gosta de correr atrás da bola, não é? a minha adora.

    quanto ao bobinho, ou melhor o robinho, eu não gosto dele não... sei lá, acho que ele é... bem, deixa para lá, é coisa de intuição feminina,

    e você sabe como é, não tem muita explicação.

    você é uma ótima "contadora" de história!

    carinhos variados para você!

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  3. Oi Tonho,

    Que lindo o seu texto! E a coloração da sua barba é igualzinha à minha, sal-e-pimenta.

    Você fala francês? Eu comecei a aprender as línguas humanas, são difíceis. Domino bem cachorrês, gatês, macaquês e delfinês. Mas acredito que com um tempo as neolatinas irei latir bem.

    Au revoir ,

    Úrsula Maff

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  4. Betina,

    Fêmea também entende de futebol. A Soninha, de São Paulo escreve muito bem.

    Eu também não falo palavrão, mas no calor da torcida sai um uivo de vez em quando, né? Meu pelo fica eriçado. Não tem jeito.

    Agora golaço, gol bonito é o do Ganso. Seria um "GOLANSO" , não?

    Eu adoro bola, mas quando ficam jogando pra mim eu enjoo logo e pego a bolinha e vou esconder debaixo da cama do papai.

    Robinho é fraco, teve problema com uma cachorra numa boate na Inglaterra. Quem me falou foi o Nick, bom escritor de futebol. Ele publicou "Fever Pinch", que é um belo trocadilho em inglês, de palavrão...

    Outro sujeito bom de escrever é o Nelson. Em "À Sombra das Chuteiras Imortais" ele arrebenta. Tá certo que é meio teatral, mas qual humano que não o é? Há um caráter hiperbólico nos textos de bola , dele.

    Tiau chuchu,

    Úrsula Maff

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  5. golanso, hahaha
    que esperta!

    menina?! você conhece "à sombra das chuteiras imortais"? tô besta! não é muito comum uma moça-canina ler, muito menos sobre futebol e muito menos ainda escrito por um autor tão controverso. você está de parabéns, por sua cultura e inteligência.

    eu adoro o nelson e é justamente por ele ser teatral demais! eu adoro teatro. li todos os textos dele, mas não recomendo para você, são muito pesados para uma mocinha...

    carinhos variados para você!

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  6. Betina,

    Tenho lido muito nestes meus últimos sete anos de vida, que correspondem a 40 aninhos humanos.

    Tive o prazer de conhecer o Sr. Rodrigues numa das raras vezes em que ele foi ao BarBa's que era do filho dele e do primo do meu doninho.

    Um homem interessante, de boas tiradas, que adorava o Fluminense. Gostei do cheiro dele.

    Quanto aos textos, eu já os li e até vi as adaptações cinematográficas e algumas peças. Não achei "pesado" , não. Só achei muito humano, demasiadamente humano, como diria o meu conterrâneo Nietzche.

    Obriago pelos elogios, você é muito gentil, aposto que sua Elsie Blitz deve lhe adorar!

    Urrrrrrrrrrrrr,

    Úrsula Maff

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