domingo, 15 de agosto de 2010

RITOS DE PASSAGEM

Meu dono tem uma marca na mão direita. Perguntei o que era e ele disse que foi picada de formiga. Mas era enorme o ferimento, imaginei um milhão de insetos mordendo a patinha dele. Depois de muita insistência ele disse que fez um teste, quando foi na Amazônia pela oitava vez, perto de Parintins. Descobri que a tal mordedora era a tucandeira, que ele insistiu em dizer outro nome: a watyama.

Não sei direito quando ele ganhou esta cicatriz, pois ele tem um monte delas espalhadas pelo corpo e também n’alma. Depois me explicou sobre uma cerimônia que os índios sateré-maués fazem quando jovens e depois disso são declarados adultos. Achei interessante, pois no reino animal não existe bem essa diferenciação. Criança-adolescente-adulto. Geralmente um cão ou é filhote, ou é maduro. Será que a adolescência é uma invenção da sociedade humana para colocar crianças com consumo de adultos ou adultos com comportamentos infantis?

Tentei procurar aqui em Goiânia-GO, Brasil, o que seria o reflexo disso. Nos jovens em crescimento. Seria a festa de quinze anos feminina? Ou então a aprovação no vestibular? Ou será que a compra de um carro novo? E os que não podem –adquirir bens caros- porque não tem dinheiro? O primeiro beijo? A primeira cruza? Sair de noite sozinho? Viajar sem a companhia dos pais? Ah, viagem... Ouvi falar de uma tal de Disney...

Cães são nômades por natureza, eles vão à busca da caça e depois se abrigam em suas tocas. Contudo com a domesticação feita por vocês, começamos a segui-los e também devido a essa proximidade, foram selecionando raças de acordo com o comportamento do interesse de vocês. Entretanto não perdemos o instinto, da busca incessante de comida, de novidades, de explorar e se encontrar. Será que viajar para a sua espécie é a verdadeira vocação?

Essa Disney parece ser o sonho (de consumo?) de dezenove entre vinte jovens – pesquisa feita por mim mesma - na idade entre 15 a 17 anos. O quem tem lá? Alimentos diferentes? Experiências com novas culturas? Diversão saudável? Abolição de regras e liberdade diante do um novo contexto?

Como curiosa que sou, fui pesquisar. Descobri que é uma fortuna o custo da viagem. Não são todos os pais podem pagar, a minoria somente. Alguns fazem sacrifícios enormes para em dezenas de prestações enviarem seus filhos para outro país e lá despenderem de duas a três semanas de passeio. As crianças querem por que querem. Um imediatismo horrendo e a possibilidade de consumo, brutal.

Achei que fossem numa turma de três ou quatro, com um pai ou adulto amigo e responsável. Mas não! Vão em bandos enormes, às centenas, coordenados por profissionais que os vigiam o tempo todo num estranho jogo de contenção. Não pode isso, não pode aquilo. Os coitadinhos correm de um lado para o outro. E comem, como comem!

Alimentação é baseada em bolas redondas de trigo fermentado com recheio de uma carne triturada que não sei do que é, pois não tem cheiro e nem sabor. Parece isopor. E bebem uma substância gasosa, bem açucarada, que vem dentro de latas coloridas. Nunca vi um cachorro sequer beber isso! Chamam de hambúrguer e refrigerante. Além de batatas fritas. A mistura é péssima, só cheirar o cocô deles para ver que é um negócio violento. Quase podre. Hiena é que aprecia. E antes de tudo, saibam que hienas não são canídeos ...

Não há novidade alguma nessa viagem. Só consumo desembestado e uma liberdade falsa de ficar encontrando à noite nos quartos dos colegas. O local é tão limpo, mas tão limpinho que parece um centro cirúrgico. Fico doente só de imaginar. Nenhuma lama gostosa para por o pé. Nenhum vento que desarruma a roupa. Nenhuma comida surpresa, uma fruta legal, sequer. Só quinquilharias. Animais de pelúcia gigantes e todos de uma fauna exótica ao nosso país!

Achei muito sem graça essa tal de Disney. Nunca irei. Desperdício de tempo e dinheiro, sendo que o primeiro,vocês não aproveitam e gastam rápido e sem tirocínio. E o segundo quando o têm ele os escraviza e detona com sua saúde. E quando não tem, faz com que perda muito do primeiro em busca do segundo, sem ver que o primeiro não volta e segundo acaba.

Vou dar uma sugestão. Vale para todo mundo. Por que não começam dando uma volta à pé no seu quarteirão? Observe bem as outras casas, como funcionam, faça isso em horários diferentes, veja o ritmo das pessoas e dos dias. Depois tome um ônibus qualquer e vá até o ponto final. E retorne. Quantos bairros será que você já conhecia?

Já reparou que nossos caminhos são sempre os mesmos? Por isso é que cães cheiram tudo e deixam suas marcas. Sejam os caminhos novos ou velhos conhecidos. Nós aproveitamos cada instante! Tem menino que já foi em outro país e não consegue trafegar na sua própria cidade sozinho! Se deixarem-no à pé não sabe o caminho de casa!

Explore sua cidade e redondezas. Os mercados, as festas, o local aonde todos vão. O campo de futebol... A praça. Pode expandir para as cidades do seu estado. Evite as turísticas nos feriados. Vá para aquelas que nada lhe dizem. Algo novo irá surgir. Planeje, discuta com seus amigos. Ou você prefere um “pacote” onde você é tratado como gado? Onde seu nome está escrito numa coleira qualquer e ninguém sabe direito quem você é?

O nosso país é enorme e variado, tanta coisa legal. Tanta comida saborosa. Vivencie. Deixe os modismos, não seja influenciado pelo que lhe vendem. Você não é um objeto e sim uma pessoa. Também não é cão, pois se fosse saberia exatamente o que quer...

Se você consegue ir aonde outros não foram, seja perto ou longe, e descobrir novos elementos, diria que cresceu e é adulto. Suas vitórias serão internas e eternas, pois aprendizado e viagens ninguém pode lhe tirar. Uma pata aqui e outra acolá, é dando o primeiro passo que você chega lá!

Úrsula Maff

4 comentários:

  1. Concordo com tudo o que você disse sobre a Disney... Úrsula , parabéns eu adoro a sua seleção de fotos para o texto.

    Maria Clara

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  2. Olá Marie Claire,

    Gostaria que prestasse muita atenção ao pequeno animal da última foto. E depois me diga o que achou. Há um segredinho, ali.

    Obrigado pela sua leitura constante.

    Auf, auf, auf,

    Úrsula Maff

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  3. Oi Úrsula

    A pergunta é para a Maria Clara, mas eu poderia
    responder? Parece-me que o cãozinho da foto es-
    tá numa pose em que lembra-me o mapa do Brasil.
    Será este o segredinho?
    Bjin
    Uyara

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  4. Olá Uyara,

    Yeah! Você acertou lindona! Cada texto meu, cada foto minha, contém um subtexto, um segredinho, o "algo mais".

    Os leitores mais atentos poderão perceber claramente.

    Estou radiante com a sua chegada e participação no meu blog. Obrigada por ser tão fiel à mim. Fidelidade é uma qualidade essencialmente canina.

    Cheirinho gostoso,

    Auf, auf, auf, auuuuuuuuuuuuuuuuuu!

    Úrsula Maff

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