“Cães de Aluguel”
Improvável. Quentin Tarantino constrói sua trama baseada nesta palavra. Desfia um enredo, às vezes linear. Outras, não. São seis homens que recebem uma missão. Assaltar uma joalheria. E um codinome de cores. Mr Blue, Mr White, Mr Orange e daí em diante. A piada sobre todos quererem ser o Mr. Black é a melhor. Ser preto é ser mau. Politicamente incorreto? Até a medula. Todas as citações ao mundo dos “niger” são verdadeiras e têm um fundo de inveja.
As gírias são sempre de negros. Tais como “ice” para diamantes. Ou começar uma frase com “fuck” e terminar com “man”. Diálogo inicial sobre a Madonna é impagável. Qual a verdadeira origem da letra de “Like a virgin”? Isso é cultura pop. Tarantino pode ser um nerd, feio e sem charme algum. Mas é estupidamente inteligente. E de uma memória primorosa. Levanta sucessos dos anos 70 (sua e minha, época) e cita K-Bill e quatorze anos depois faz um filme com este título. Revisitar a si próprio é uma arte rara e especial.
Cada personagem tem uma característica única. White é justo e emocional. Orange é atrevido e arrisca. Brown é o que o nome diz, bem próximo a merda. Pink é um diplomata e profissional – ele diz isso três vezes no filme. Blonde é um psicopata coerente, mas louco. Blue fala somente no começo, culto e direto. O filho Joe é fiel e ama o pai. E o carecão é o mestre. O chefe. Tem o carisma e o instinto. Líder indiscutível , que tal a frase: “ – You make this: my way or highway!”
As referências a histórias em quadrinho como o “Coisa” do quarteto fantástico e o enorme pôster do Surfista Prateado no muquifo do policial, são incríveis. Para quem não sabe Silver Surfer é um outsider, deslocado da grandeza de Galactus (a polícia) e agindo sozinho, tal como Mr. Orange. O policial infiltrado. Não demoro muito a perceber que ele, obviamente é o rato.
O forte do cinema é o plano grande que só a telona nos dá. Takes de baixo para cima. A composição do figurino de gravata fina preta, camisa branca e terno escuro, é chique. O sangue colore estes trajes. Reparem bem que a maioria das cenas é apenas um galpão. Pouco dinheiro e muita idéia. Quem traiu quem? Quem tentou apenas se safar? Com qual homem você, leitor se identificaria?
À medida que o tempo passa e os atores vão sendo colocados frente-a-frente, as nuances psíquicas afloram. Vale mais a amizade e empatia inicial ou a voz de comando? Bandidos gostam de detalhes. Revejam a descrição da história do banheiro. Inverossímil. Mas crível pela ótica de um marginal.
Cena final é fantástica. Ter alguém morrendo no seu colo e... faço justiça ou deixo para lá? E o senhor Pink? Foi embora impunemente? É uma ótima história e melhor ainda do jeito que é contada.
O que há de bom: diálogos sobre o american way of life, recheados de opiniões surpreendentes e uma ótima câmera
O que há de ruim: nós não conhecemos tão bem as músicas tocadas, exceto a do solo do psicopata com o policial e nem sobre jogos de beisebol...
O que prestar atenção: até as armas combinam com os caras, inclusive a mulher que atira na hora mais improvável
A cena do filma: o quarteto apontando entre si e os tiros simultâneos, cobras quase sempre mordem o rabo. Oroburo.
Cotação: filme ótimo (@@@@) COBRA
É Tarantino em estado puro, sem grandes firulas ou recursos financeiros. Assistam “Jackie Brown”, é uma surpresa!
úrsula,
ResponderExcluirconfesso que, apesar de minha doutrina pessoal ditar a não violência, tarantino é imbatível para criar cenas brilhantes no gênero tiro e sangue.
que resenha maravilhosa! nossa!
para você que gosta de tarantino, vale o vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=Fknp2aDXQyU
veja lá que interessante!
PS: o filme não é violento demais para uma mocinha?
afagos.
Olá Betina,
ResponderExcluirGosto de ação. Sou mocinha mas sou um cão!
Úrsula Maff