sábado, 5 de março de 2011

Quinta está no ar: Filme: CÃES DE ALUGUEL

O filme é sensacional, Tarantino é um amigo de cães; gosto dele. Titio COBRA mais uma vez arrebenta na resenha... Leiam !!!


“Cães de Aluguel”

Improvável. Quentin Tarantino constrói sua trama baseada nesta palavra. Desfia um enredo, às vezes linear. Outras, não. São seis homens que recebem uma missão. Assaltar uma joalheria. E um codinome de cores. Mr Blue, Mr White, Mr Orange e daí em diante. A piada sobre todos quererem ser o Mr. Black é a melhor. Ser preto é ser mau. Politicamente incorreto? Até a medula. Todas as citações ao mundo dos “niger” são verdadeiras e têm um fundo de inveja.

As gírias são sempre de negros. Tais como “ice” para diamantes. Ou começar uma frase com “fuck” e terminar com “man”. Diálogo inicial sobre a Madonna é impagável. Qual a verdadeira origem da letra de “Like a virgin”? Isso é cultura pop. Tarantino pode ser um nerd, feio e sem charme algum. Mas é estupidamente inteligente. E de uma memória primorosa. Levanta sucessos dos anos 70 (sua e minha, época) e cita K-Bill e quatorze anos depois faz um filme com este título. Revisitar a si próprio é uma arte rara e especial.

Cada personagem tem uma característica única. White é justo e emocional. Orange é atrevido e arrisca. Brown é o que o nome diz, bem próximo a merda. Pink é um diplomata e profissional – ele diz isso três vezes no filme. Blonde é um psicopata coerente, mas louco. Blue fala somente no começo, culto e direto. O filho Joe é fiel e ama o pai. E o carecão é o mestre. O chefe. Tem o carisma e o instinto. Líder indiscutível , que tal a frase: “ – You make this: my way or highway!”

As referências a histórias em quadrinho como o “Coisa” do quarteto fantástico e o enorme pôster do Surfista Prateado no muquifo do policial, são incríveis. Para quem não sabe Silver Surfer é um outsider, deslocado da grandeza de Galactus (a polícia) e agindo sozinho, tal como Mr. Orange. O policial infiltrado. Não demoro muito a perceber que ele, obviamente é o rato.

O forte do cinema é o plano grande que só a telona nos dá. Takes de baixo para cima. A composição do figurino de gravata fina preta, camisa branca e terno escuro, é chique. O sangue colore estes trajes. Reparem bem que a maioria das cenas é apenas um galpão. Pouco dinheiro e muita idéia. Quem traiu quem? Quem tentou apenas se safar? Com qual homem você, leitor se identificaria?

À medida que o tempo passa e os atores vão sendo colocados frente-a-frente, as nuances psíquicas afloram. Vale mais a amizade e empatia inicial ou a voz de comando? Bandidos gostam de detalhes. Revejam a descrição da história do banheiro. Inverossímil. Mas crível pela ótica de um marginal.

Cena final é fantástica. Ter alguém morrendo no seu colo e... faço justiça ou deixo para lá? E o senhor Pink? Foi embora impunemente? É uma ótima história e melhor ainda do jeito que é contada.

O que há de bom: diálogos sobre o american way of life, recheados de opiniões surpreendentes e uma ótima câmera

O que há de ruim: nós não conhecemos tão bem as músicas tocadas, exceto a do solo do psicopata com o policial e nem sobre jogos de beisebol...

O que prestar atenção: até as armas combinam com os caras, inclusive a mulher que atira na hora mais improvável

A cena do filma: o quarteto apontando entre si e os tiros simultâneos, cobras quase sempre mordem o rabo. Oroburo.

Cotação: filme ótimo (@@@@) COBRA

É Tarantino em estado puro, sem grandes firulas ou recursos financeiros. Assistam “Jackie Brown”, é uma surpresa!

2 comentários:

  1. úrsula,

    confesso que, apesar de minha doutrina pessoal ditar a não violência, tarantino é imbatível para criar cenas brilhantes no gênero tiro e sangue.

    que resenha maravilhosa! nossa!

    para você que gosta de tarantino, vale o vídeo:

    http://www.youtube.com/watch?v=Fknp2aDXQyU

    veja lá que interessante!

    PS: o filme não é violento demais para uma mocinha?

    afagos.

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  2. Olá Betina,

    Gosto de ação. Sou mocinha mas sou um cão!

    Úrsula Maff

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