domingo, 4 de julho de 2010

Dando Nome aos Bois

Meu nome foi escolhido pelo meu papai. Úrsula. Ele deveria ser fã daquela atriz que sai balançando d’água, de biquíni, no filme do 007. Ou então achou que seria um nome bem alemão. Eu adoro meu nome, mas não é um nome de cão. Antigamente os cachorros tinham nomes mais adequados, tais como Rex, Fido, Fifi, Leão, Fera, Ringo, Barão, Duque, Branca, Preto... Sei lá, nomes de animais, nomes de títulos nobiliárquicos, nomes de cores, comportamentos. Hoje colocam nome de gente. Não está certo. Gente é gente e animal é animal.

Minha doninha acha que eu sou gente, mas não sou; não. Sou um animal de caça e pronto! Agora, o fato de ser chamada Úrsula, denota que sou alemã. Vocês brasileiros tem mania de colocar nomes estrangeiros em seus filhos, que estranho! Quando papai esteve na Itália, um colega dele chamava-se Washington, todo mundo perguntava se ele era norte-americano, depois se os pais eram de lá. Simplesmente não compreendiam como um nativo sul-americano poderia ter esse nome. Na França foi a mesma coisa e na Inglaterra também. Mas aqui no Brasil existem milhares de Giovannis, Michelles, Michaels! É lindo mas não é brasileiro.

E a grafia é das mais desajeitadas possíveis, veja o lateral direito dessa seleção brasileira de 2010! Tadinho. Nem sabe como é a origem. Acho até preferível o antigo hábito dos humanos brasileiros batizarem seus filhos com nomes de reis e rainhas. Quantos Ricardos, Elizabeths, Margarets, Stephanies, Carolines, nós conhecemos? Depois veio a moda dos artistas e personagens famosos de cinema, tais como: Sofia, Jaqueline, Rebeca, Cristina, Yuri, Wagner...

Atualmente os nomes são de santos; Lucas, Tiago, Mateus, João e até de anjo; Gabriel. E de mulher pode ser Maria Eduarda (tinha uma novela com uma personagem assim) Vitória e outras semelhantes. Acho bonitos, será que as pessoas estão precisando de mais religiosidade ou um nascimento tornou-se uma batalha? Eu gostei quando o autor Manoel Carlos colocou no ar uma novela e só deu nome esdrúxulo aos personagens, ele queria ver se o povo copiava. Vocês se lembram? Chamava-se “Fera Ferida”. Tinha o Raimundo Flamel, Rubra Rosa, Numa Pomílio, Perla Menescal, Áureo Poente, Zigfrida... Que loucura. Au, au, auuuuuuuuu!

Acho que os verdadeiros nomes em português, tais como José, Maria, João, Ana, Sebastião, Aparecida, Manoel, e até os indígenas, já que o Brasil tem habitantes reais, aqui. Por exemplo; Ceci, Peri, Araci, Cauã, Iracema, Jaciara, Janaína, Jussara, Maiara, Moema, Rudá, Yara. Fica muito elegante. Por essas e outras que fui educada como uma “Maff”. Meu nome de família. Em vez de ouvir que uma menina não faz isso ou aquilo, eu desde cedinho escutei: uma “Maff” não age assim.

Interessante como o comportamento machista é muito arraigado nos latinos e humanos em geral. Parece que fêmea não tem vez. Mas tem! Primeiro o que interessa é ser cão e não o sexo! Minha dica de nome: escolha um que seja curto e sonoro. Ou você acha que um cachorro pode se chamar “Melquíades”? Nunca!

Segundo, escolham vogais abertas, nada de letras fechadas ou muitos encontros consonantais. Depois, jamais chame a atenção, dê bronca, falando nosso nome! Ou também não coloque um nome que termina em “ão”, pois a palavra “não” pode ficar associada a isso, a negatividade do cachorrinho... E nomes bobos, ridículos, o animal entende, ele percebe as pessoas gozando seu nome.

Quanto aos adultos as sugestões são as mesmas, jamais faça algo que ridicularize a criança, o pequeno filhotinho. E apelidos são bem-vindos também, ou você sabe que o Zico chama-se Arthur? Nome de rei... E principalmente valorize a ancestralidade. Que legal repetir um nome de um avô ou um tio... E, principalmente; a família. Eu sou uma Maff e sempre serei.

Engraçado que se alguém da família humana coloca um nome, ele não se repete depois. O doberman chamado Bloy deu este nome a simplesmente 06 cães depois dele, na família humana a que pertenço. Só Joões eu conheço quatro! Todos vivos! Marias em profusão, Anas, e por aí vai... Eles são repetitivos ou fiéis?

Nome é algo tão particular e importante que acredito que o segredo é você construir o seu. Não adianta ser diferente no batismo e não se tornar alguém. Molde-o com honra, dignidade, pois mesmo que seja bem comum, será você. Um cão de opinião!

Úrsula Maff

ps: antes que algum nome aqui postado fique com "raivinha" é importante frisar que são apenas exemplos, nada pessoal (quero dizer, animal...)

6 comentários:

  1. Ave...tô ferrada, meu nome é Walkyria. Vc acha que fica difícil pra um cão entender meu nome?

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  2. Olá Val,

    Nomes longos exigem contrações monossilábicas. Acho que Val fica lindinho, não?

    Rennó é bem mais fácil, pois cães adoram oxítonas.

    Suleiman já é difícil, para um cão. Eu chamaria de Sú.

    Auf, auf, auf,

    Úrsula Maff

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  3. ah! eu gostei tanto de sua defesa por nomes mais "brasileiros"... penso assim também!


    e gostei ainda mais de você dizer que devemos construir nosso nome! eu também acredito que somos o que pensamos que somos.

    eu gosto quando você publica suas crônicas, acho que você escreve como quem gosta de escrever e isso é fundamental para cativar seus leitores. parabéns!

    carinhos variados para você, menina.

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  4. Olá Betina,

    Nomes são reflexo de um povo e sua cultura, e a língua ainda mais. Por isso essa defesa acalorada.

    Quaisquer que sejam os nomes que nós tenhamos recebido, a identidade quem constrói é você. Essa mania de dar nome "diferente", com dois "elles" e dois "ennes" é algo muito pobre...

    Eu adoro escrever, meu "lap-dog" que ganhei do papai é ótimo e já está inclusive adaptado para teclar o "space" como o meu quinto dedo, que é mais alto que o dos humanos.

    Sinto que meu português é ainda uma "beiradinha" do que poderia ser. Mas estou estudando com afinco e atenção. Outras línguas também, já que as que conheço não servem para vocês...

    Um carinho no cabelo, carinho de cão,

    Úrsula Maff

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  5. bem...
    A Wall diz que eu, ela, e Betina, somos a mesma pessoa (simbióticamente falando); o que para mim é ótimo!: ficar simbióticamente juntinho com essas duas fêmeas de minha espécie... (ai), não é para qualquer um!

    Hum, sua cacholinha é muito inteligente!
    (Olha a idéia que pintou): vai ver, vc gosta tanto dela que, através de vc, ela está (ou irá), passar algumas impressões de seu mundo para nós.
    Betina insistiu para que eu viesse dar uma olhadinha nessa canina conversa. Achei-a interessante.
    Gosto muito de cães, e de bichos em geral. Sem eles já se disse que enlouqueceríamos, e/ou que ficaríamos extremamente sós...
    Acredito em ambas afirmações.

    Abrçs, e amistosas cheiradas!

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  6. Olá Sylvio,

    Essa simbiose é deveras interessante. Gostei. Semelhanças como essa talvez não seriam detectadas se não existisse a NET.

    As impressões do mundo vistas pela ótica canina estão aí. Mas eu aguardo sugestões de vocês, leitores, em especial de você Sylvio.

    Quais outros animais você gosta além de cães? E se você fosse um cão, qual raça seria?

    Abração de cão,

    Auf, auf, auf,

    Úrsula Maff

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